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Território do Saber: Comunicação e Novas Linguagens
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1. Apresentação
Derivado do latim, o termo Comunicação (“communicare”) significa “partilhar, participar de algo, tornar comum”, sendo, portanto, um elemento essencial do processo educativo. A Comunicação pode ser resumida como um sistema que envolve a transmissão e a recepção de mensagens entre uma fonte emissora e um receptor, por intermédio de recursos físicos (fala, audição, visão etc.) ou de aparelhos e dispositivos técnicos, codificadas na fonte e decodificadas no destino com o uso de sistemas convencionados de signos ou símbolos sonoros, escritos, iconográficos, gestuais etc. (Comunicação, HOUAISS).
As Novas Linguagens, por sua vez, dizem respeito aos recentes recursos e sistemas de signos e códigos aliados às novas tecnologias e espaços de comunicação. As Novas Linguagens refletem mudanças culturais, tecnológicas e sociais, permitindo novos modos de interação e expressão.
Comunicação
Relacionada de maneira direta a duas das dez competências gerais da Educação Básica da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Comunicação é parte indissolúvel da Educação, uma vez que não existe expressão, diálogo ou construção de conhecimento sem processo comunicativo.
No Currículo da Cidade de São Paulo, a Comunicação configura-se como um campo da Matriz de Saberes:
“Utilizar as múltiplas linguagens, como: verbal, verbo-visual, corporal, multimodal, brincadeira, artística, matemática, científica, Libras, tecnológica e digital para expressar-se, partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo” (SÃO PAULO, 2020, p. 67).
O mesmo documento preconiza que, no contexto da Comunicação, é importante ofertar aos(às) estudantes oportunidades de expressão de sentimentos e emoções. É de extrema importância que os(as) estudantes sejam capazes de se comunicar de maneira efetiva, seja por meio verbal, textual, corporal, artístico, científico, seja por meio do uso de plataformas de mídia analógicas ou digitais (SÃO PAULO, 2020, p. 69).
A relação entre Educação e Comunicação é tão estreita que culminou na construção do conceito de Educomunicação. Segundo Ismar de Oliveira Soares, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom), ela é entendida como um paradigma orientador de práticas socioeducativo-comunicacionais que têm como meta a criação e o fortalecimento de ecossistemas comunicativos abertos e democráticos nos espaços educativos, mediante a gestão compartilhada e solidária dos recursos da comunicação, suas linguagens e tecnologias, levando ao fortalecimento do protagonismo dos sujeitos sociais e ao consequente exercício prático do direito universal à expressão.
Esse conceito enfatiza a importância da comunicação no processo educativo, utilizando-se de diferentes linguagens para facilitar o processo de ensino-aprendizagem e a participação ativa dos(as) estudantes.
Novas Linguagens
A cada dia que passa, novas tecnologias, linguagens e ferramentas de comunicação são apresentadas e a relação das novas gerações com esses novos espaços e aparelhos tecnológicos é muito distante da relação mantida pelas gerações anteriores. Assim, as escolas têm sido cada vez mais desafiadas a lidar de maneira construtiva e não nociva com as inovações tecnológicas e de comunicação.
“É notável, hoje, a mudança na relação de crianças e jovens com as novas tecnologias possibilitadas pela internet. Há um novo modo de aprender e de se relacionar com o mundo. Portanto, aproximar as áreas da educação e da comunicação é um desafio necessário e emergente dessa nova sociedade. Superá-lo significa repensar as relações de ensino-aprendizagem a partir dos indivíduos, transformando-os em seres conscientes das possibilidades de diálogo com o outro e capazes de utilizar as linguagens da comunicação para produzir informações que façam sentido para a sua vida e para o coletivo” (REMIÃO, 2011, p.95).
Nesse contexto, é ainda mais relevante desenvolver iniciativas educomunicativas, tendo como base três áreas de intervenção sócio, político e cultural: a mediação tecnológica nos espaços educativos, a educação frente aos meios de comunicação e a gestão comunicativa em espaços educativos (REMIÃO, 2011, p.98).
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Experiências pedagógicas – Territórios do Saber
A expansão curricular na Educação Integral é oferecida por meio dos Territórios do Saber, propondo experiências pedagógicas que integrem o cuidar e o educar em diferentes ambientes, priorizando a exploração e a investigação articuladas à intencionalidade docente para promover a formação integral dos estudantes.
No Território do Saber “Comunicação e Novas Linguagens”, as experiências são:
a) Experiências de leitura, tais como: Academia Estudantil de Letras (AEL), clube de leitura, contação de histórias, cordel, cultura popular, oratória, diversidade cultural, sarau, slam;
b) Línguas estrangeiras, tais como: alemã, espanhola, francesa, italiana, inglesa, japonesa ou outra;
c) Educomunicação: cinema e vídeo, fotografia, imprensa jovem, rádio, podcast, revista, jornal, jornal escolar;
d) LIBRAS: docência realizada por Professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental ou Professores de Ensino Fundamental II e Médio com habilitação na área.
Fonte: SÃO PAULO, 2024.
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2. Dicas práticas
Sugerimos algumas estratégias pedagógicas que podem contribuir com a articulação dos Territórios do Saber aos potenciais educativos do território. Os mapeamentos realizados pelas escolas são uma referência para o planejamento de Trilhas de Aprendizagem que estejam contextualizadas a partir de diferentes realidades e que potencializam a vivência dos(as) estudantes durante a exploração de locais e diálogo com os saberes locais.
- Levante grupos, coletivos e espaços que atuem com Comunicação e Novas Linguagens e os convide para uma roda de conversa na escola e/ou planeje visitas a esses espaços;
- Convide os(as) familiares para apoiarem as saídas, afinal, a experiência de ocupar a cidade é para todos(as);
- Articule com agentes do território que possam contribuir com seus saberes e experiências em atividades formativas para estudantes, educadores(as) e comunidade escolar no tema;
- Proponha aos(às) estudantes o levantamento das estratégias e canais de comunicação nas diferentes instâncias da escola e entorno;
- Planeje em conjunto com os(as) estudantes e a comunidade escolar, melhorias e contribuições para as estratégias e canais de comunicação nas diferentes instâncias da escola e entorno;
- Proponha o registro e a divulgação de atividades e saídas a partir de estratégias e técnicas distintas, como fotografia, vídeo, postagens em redes sociais, imprensa jovem, podcast etc.;
- Planeje visitas a espaços conectados ao tema de Comunicação e Novas Linguagens, como locais de mídia comunitária, rádios, estúdios, associações, museus etc.;
- Apoie a proposição e o planejamento de atividades como Academia Estudantil de Letras (AEL), clube de leitura, contação de histórias, cordel, cultura popular, oratória, diversidade cultural, sarau, slam etc. em conexão com os parceiros mapeados;
- Incentive iniciativas de tradução de atividades e eventos para LIBRAS.
3. Passo a passo:
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1º passo: Planejar
Este é o passo inicial para a elaboração do planejamento docente da trilha, ou seja, as iniciativas que irão anteceder as atividades com os(as) estudantes. Para esta etapa, sugerimos algumas ações importantes:
- Explorar o mapeamento dos potenciais educativos do território. Esse pode ser o tema de uma reunião/formação coletiva de planejamento;
- Levantar com a equipe docente o que já conhece ou ainda não a respeito dos potenciais educativos do território;
- Organizar a atividade de formação em espaços do território. Essa é uma boa oportunidade para proporcionar vivências práticas que aproximem a escola do território;
- Por fim, acessar a Estante virtual, que reúne materiais, como livros, pesquisas, publicações, vídeos, podcasts, entre outros, que podem auxiliar as ações nos territórios
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2º passo: Explorar
- Apresentar para os(as) estudantes a proposta de realizar uma trilha para explorar os potenciais educativos do território a partir do levantamento de temas de interesse;
- Após o levantamento inicial dos temas, identificar o quanto o grupo sabe a respeito dos assuntos. Nesse momento, o(a) professor(a) poderá agrupar os temas, criando conexões entre os assuntos e estimulando, a partir da elaboração de perguntas, as possibilidades de investigação dos temas;
- Selecionar conjuntamente com os(as) estudantes o tema da trilha e definir as ações que contribuam para sensibilizá-los(as) para o tema em conexão com atividades já desenvolvidas;
- Explorar os livros que a escola já possui em sua biblioteca e sala de leitura;
- Exibir vídeos;
- Apresentar uma seleção de potenciais educativos que fazem parte do mapeamento dos potenciais educativos.
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3º passo: Vivenciar
Nesta etapa, os(as) estudantes irão construir coletivamente um mapa de interesses a partir dos locais e pessoas identificados na etapa anterior. A ideia é elaborar perguntas, estimular a curiosidade acerca dos potenciais elencados e levantar as informações necessárias para a realização dos agendamentos das saídas e conversas.
É importante que, nesse momento, o(a) professor(a) realize os planejamentos a partir dos objetivos e resultados esperados para os Territórios do Saber, que precisam estar em diálogo com o Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola, o Currículo da Cidade – Matriz de Saberes e os ODS.
Atenção: Não se esqueça de registar todas as etapas com fotos, vídeos, desenhos, diários de bordo e depoimentos. Esses registros são importantes para a próxima etapa.
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4º passo: Disseminar
Após a circulação nos espaços, encontros e conversas, os(as) estudantes precisam organizar e analisar as informações levantadas. É o momento de estruturar uma forma de apresentar para toda a comunidade escolar o que aprenderam na prática a partir da trilha realizada. Explore diferentes linguagens como exposições, painéis, intervenções, eventos temáticos, performances, rodas de conversa com convidados etc.
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5º passo: Avaliar
Nesta etapa final, gestores(as), professores(as) e estudantes refletem sobre o processo de planejamento e execução da trilha. Essa ação é importante para garantir a qualificação das práticas educativas a partir de diversas vozes. A avaliação compartilhada é um movimento formativo do qual todos(as) participam e constroem percepção comum acerca dos aprendizados e desafios enfrentados.
- Agendar dia para realizar a avaliação. É importante reunir todas as pessoas envolvidas direta e indiretamente na atividade: estudantes, professores(as) e gestão.
- No dia da avaliação, o(a) professor(a) faz uma linha do tempo, relembrando todas as etapas da trilha. Em seguida, realiza rodadas de perguntas para os(as) participantes. As percepções relatadas devem ser registradas para que todos(as) possam visualizar os pontos abordados. A seguir, algumas sugestões de perguntas:
- Quais foram os desafios? O que não deu certo?
- Como enfrentamos os desafios? Quais foram as novas ideias que surgiram durante a execução da trilha?
- Como podemos melhorar? O que podemos fazer diferente nas próximas trilhas?
- Quais ideias de temas, de percursos e de novos potenciais educativos a serem explorados em novas trilhas?
Nesse momento, é fundamental que o(a) professor(a) faça conexões com outros temas/ações/projetos que estão em curso na escola e relacione os resultados alcançados com as demais áreas do conhecimento.
Aproveite todas as reflexões geradas para promover novas discussões acerca do desenvolvimento do Programa São Paulo Integral na escola, considerando as bases da educação integral e a implementação de práticas a partir da vocação da unidade escolar e do território.
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Importante
- No início do planejamento da trilha, passos 1 e 2, realizar o agendamento prévio, pois a articulação em muitos espaços é demorada.
- Durante as saídas, garantir a segurança dos(as) estudantes com identificação (crachá/uniforme).
Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: bit.ly/49iM638
CENTRO DE REFERÊNCIAS EM EDUCAÇÃO INTEGRAL. Educomunicação. Disponível em: bit.ly/4h1OpfN
Comunicação. Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss. Disponível em: bit.ly/3BtlCjD
PREFEITURA DE SÃO PAULO. Currículo Digital da Cidade de São Paulo. Disponível em: curriculo.sme.prefeitura.sp.gov.br
REMIÃO, I. H. Comunicação e Educação. In: SINGER, H. (org.). Coleção Tecnologias do Bairro Escola: Comunicação Comunitária. vol. 3. Associação Cidade Escola Aprendiz, 2011, p. 87-103. Disponível em: bit.ly/3zKSMuH
SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Educação Integral: política São Paulo educadora. São Paulo: SME/COPED, 2020. Disponível em: bit.ly/47meMY4
SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação (SME). Instrução Normativa SME nº 25, de 29 de agosto de 2024. Amplia a abrangência do “Programa São Paulo Integral – PSPI”. Diário Oficial do Município de São Paulo, São Paulo, 29 ago. 2024. SEI 6016.2024/0116056-7. Disponível em: bit.ly/3Bu2z96
SOARES, I. O. Definição de conceito de Educomunicação. ABPEDUCOM. Disponível em: abpeducom.org.br/educom/conceito
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