Território do Saber: Cultura Corporal, Aprendizagem Socioemocional, Participação Social e Promoção da Saúde

1. Apresentação

Este Território do Saber é constituído por 4 temas que perpassam possibilidades de práticas nos âmbitos individual e coletivo de modo a abordar tanto as subjetividades como a leitura de contextos fundamentais para a construção da autonomia dos sujeitos. Oportunizar o olhar para a Cultura Corporal, traz a reflexão acerca do corpo no mundo, a partir de suas inúmeras formas de expressão e de relação com as culturas das adolescências. Esse corpo que é ético, político e social em diálogo com a Aprendizagem Emocional impulsiona os(as) estudantes a enfrentarem os desafios da sociedade com habilidades relacionadas às maneiras de agir, se relacionar e atuar na sua jornada educacional e em suas vidas pessoais e profissionais. A Promoção da Saúde é tema transversal para a formação de cidadãos conscientes, responsáveis e capazes de cuidar de si mesmos, dos outros e do ambiente em que vivem.

A construção da autonomia dos sujeitos passa pelo exercício da Participação Social baseada em valores, como respeito e solidariedade, de modo a valorizar as diferentes maneiras de ser no mundo e desenvolver capacidades dialógicas que permitam construir pontes, resolver conflitos e gerar soluções colaborativas.

Cultura Corporal

A cultura corporal refere-se ao conjunto de práticas e significações historicamente construídas e expressas por meio da linguagem corporal em atividades como jogos e brincadeiras, lutas, esportes, ginásticas, danças e atividades rítmicas e expressivas. A cultura corporal é um campo de saberes presente em diferentes práticas sociais que revelam identidades culturais, relações de poder, valores, estereótipos e preconceitos que podem e devem ser tematizados na escola em uma perspectiva de currículo integrador e descolonizado (SÃO PAULO, s/d, p.39).

A partir dessa perspectiva, a cultura corporal dos(as) estudantes e a da comunidade são elementos que integram a construção de conhecimentos e a reflexão sobre o mundo em que vivemos e que se expressa por meio de múltiplas linguagens nas diferentes experiências na vida escolar. Atividades de promoção do brincar, esportivas, de promoção da saúde e do lazer podem extrapolar os muros da escola, de modo a ocupar espaços de cultura corporal no entorno, como praças públicas, ruas, clube escola, fábrica de cultura, por meio de parcerias com os demais setores da rede municipal, com pessoas da comunidade e com organizações não governamentais.

Aprendizagem Emocional

A Educação Integral destaca a importância e a relevância em desenvolver as múltiplas dimensões do sujeito. Juntamente com os aspectos cognitivo, cultural, social e corporal, as habilidades socioemocionais assumem, nessa etapa da vida do(a) estudante, diferentes intensidades e são janelas de oportunidade únicas para que aprendam mais sobre si mesmos (gostos, desejos, relações, histórias e valores) a partir das relações sociais das quais participam juntamente com a família, a comunidade, a cidade e junto aos aspectos culturais e socioeconômicos do contexto em que vivem.

Desenvolver competências socioemocionais é condição para tornar as aprendizagem mais amplas, profundas e resilientes, há um objetivo maior, que é construir com os(as) estudantes as competências para navegarem com autonomia em um mundo que pede autoconhecimento, colaboração, propósito, escolhas coletivas e criatividade (FIRMINO, 2022).

As mudanças próprias dessa fase da vida implicam a compreensão do(a) adolescente como sujeito em desenvolvimento, com singularidades e formações identitárias e culturais próprias, que demandam práticas escolares diferenciadas, capazes de contemplar

suas necessidades e diferentes modos de inserção social (BRASIL, 2018, p.60).

Nessa perspectiva, o currículo de Educação Integral destaca que é imprescindível que as crianças, adolescentes e jovens considerem o respeito a si mesmos, reconhecendo seus pontos de fragilidade e suas potencialidades, desenvolvendo a autocrítica de suas emoções e as dos outros e, desenvolvendo capacidade para lidar com isso. (SÃO PAULO, 2020, p.72).

As habilidades socioemocionais são fundamentais para a experiência educacional dos(as) estudantes, e a escola é o espaço com potencial de promover o diálogo em um ambiente de bem-estar emocional, essencial para as crianças e os(as) adolescentes.

Participação Social

A Participação Social está relacionada às atitudes e aos conhecimentos que contribuem para que os(as) estudantes participem de forma confiante e autoral no processo de tomada de decisões coletivas, visando a convivência social. Ao acessar, por exemplo, demandas que surgem do próprio bairro, da escola, da comunidade, das associações de bairro, dos coletivos, etc., o(a) estudante terá a oportunidade de incidir sobre essas demandas propondo soluções e construindo, coletivamente, planos de ações para melhores condições de vida, melhores condições ambientais e de relações entre as pessoas. A participação dos(as) estudantes em espaços de discussão e debates, como assembleias estudantis, reuniões com a associação de moradores, grêmios, entre outros, encoraja esses(as) estudantes a se comunicarem, escreverem pautas, registros, atas, de modo que se estabeleça a integração e a qualificação do que é aprendido a partir dos conteúdos escolares com a vida cotidiana (SÃO PAULO, 2020, p.70).

Há inúmeras formas de fomentar a participação dos(as) estudantes na escola, a partir do fomento à escuta e à comunicação, incorporando o diálogo com os(as) alunos à rotina escolar, criando oportunidades permanentes para que expressem suas demandas, opiniões e desejos, inclusive em relação à escola. Outro ponto é pensar em ações para transformar as escolas a partir dessa escuta, valorizando e aproveitando as ideias e as habilidades dos(as) estudantes como contribuição para a superação dos desafios da escola. É fundamental promover formações para professores(as) e alunos(as), com foco no protagonismo juvenil, de modo a preparar a equipe escolar e os(as) estudantes para lidar com gestão democrática, participação estudantil, mediação de conflitos, entre outros (PORVIR, 2017).

Promoção da Saúde

A Promoção da Saúde apresenta-se como tema transversal, buscando integrar práticas que contribuam para a formação integral dos(as) estudantes e incentivem a criação de ambientes que favoreçam o bem-estar físico, mental e social, promovendo o desenvolvimento de hábitos saudáveis e a conscientização sobre os fatores que influenciam a saúde e a qualidade de vida dos(as) estudantes e da comunidade. Abordar essa temática com eles(elas) é reconhecer e valorizar atitudes cotidianas da escola, como a promoção de atividades esportivas, de lazer-recreação, a higiene, a prevenção de doenças, a alimentação equilibrada e saudável bem como o cuidado com o bem-estar coletivo, a partir dos ambientes que promovam conforto emocional e inclusão dos(as) estudantes.

É importante que as ações que promovam a saúde sejam consonantes com as práticas e características existentes no território com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de todo(a) estudante da rede pública de ensino. Segundo o Ministério da Saúde a “saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver […]”, ela “é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas” (BRASIL, 2002, p.19-20).

2. Dicas práticas

Sugerimos algumas estratégias pedagógicas que podem contribuir com a articulação dos Territórios do Saber aos potenciais educativos do território. Os mapeamentos realizados pelas escolas são uma referência para o planejamento de Trilhas de Aprendizagem que estejam contextualizadas a partir de diferentes realidades e que potencializam a vivência dos(as) estudantes durante a exploração de locais e diálogo com os saberes locais.

  • Identifique e acesse locais e pessoas de referência no entorno da escola, pois essa poderá ser um boa estratégia de preparação para a exploração de potenciais educativos;
  • Organize grupos reduzidos de modo a ter mais segurança durante a circulação dos(as) estudantes(as);
  • Convide os(as) familiares para apoiarem as saídas, afinal a experiência de ocupar a cidade é para todos(as);
  • Explore a ocupação de áreas verdes, como parques e praças, a partir de práticas que integrem atividades corporais como jogos, brincadeiras, danças e dinâmicas em interação com a natureza;
  • Construa cartografias pessoais, enfatizando os diferentes modos de ser, estar e agir no território, focando no desenvolvimento do autoconhecimento e na construção das identidades dos(as) estudantes;
  • Incentive que os(as) estudantes identifiquem os desafios locais e proponham projetos de intervenção no território;
  • Promova o levantamento de informações do território que ilustram a qualidade de vida dos(as) moradores(as), estimulando a reflexão sobre o autocuidado e o cuidado com o meio ambiente;
  • Estimule a organização de atividades coletivas como campeonatos, campanhas, saraus, oficinas protagonizadas pelos(as) estudantes e especialistas da comunidade;
  • Articule com agentes do território que possam contribuir com seus saberes e experiências em atividades formativas.

3. Passo a passo: 

1º passo: Planejar

Este é o passo inicial para a elaboração do planejamento docente da trilha, ou seja, as iniciativas que irão anteceder as atividades com os(as) estudantes. Para esta etapa, sugerimos algumas ações importantes:

  • Explorar o mapeamento dos potenciais educativos do território. Esse pode ser o tema de uma reunião/formação coletiva de planejamento;
  • Levantar com a equipe docente o que já conhece ou ainda não a respeito dos potenciais educativos do território;
  • Organizar a atividade de formação em espaços do território. Essa é uma boa oportunidade para proporcionar vivências práticas que aproximem a escola do território;
  • Por fim, acessar a Estante virtual, que reúne materiais, como livros, pesquisas, publicações, vídeos, podcasts, entre outros, que podem auxiliar as ações nos territórios

2º passo: Explorar

  • Apresentar para os(as) estudantes a proposta de realizar uma trilha para explorar os potenciais educativos do território a partir do levantamento de temas de interesse;
  • Após o levantamento inicial dos temas, identificar o quanto o grupo sabe a respeito dos assuntos. Nesse momento, o(a) professor(a) poderá agrupar os temas, criando conexões entre os assuntos e estimulando, a partir da elaboração de perguntas, as possibilidades de investigação dos temas;
  • Selecionar conjuntamente com os(as) estudantes o tema da trilha e definir as ações que contribuam para sensibilizá-los(as) para o tema em conexão com atividades já desenvolvidas;
  • Explorar os livros que a escola já possui em sua biblioteca e sala de leitura;
  • Exibir vídeos;
  • Apresentar uma seleção de potenciais educativos que fazem parte do mapeamento.

3º passo: Vivenciar

Nesta etapa, os(as) estudantes irão construir coletivamente um mapa de interesses a partir dos locais e pessoas identificados na etapa anterior. A ideia é elaborar perguntas, estimular a curiosidade acerca dos potenciais elencados e levantar as informações necessárias para a realização dos agendamentos das saídas e conversas.

É importante que, nesse momento, o(a) professor(a) realize os planejamentos a partir dos objetivos e resultados esperados para os Territórios do Saber, que precisam estar em diálogo com o Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola, o Currículo da Cidade – Matriz de Saberes e os ODS.

Atenção: Não se esqueça de registar todas as etapas com fotos, vídeos, desenhos, diários de bordo e depoimentos. Esses registros são importantes para a próxima etapa.

4º passo: Disseminar

Após a circulação nos espaços, encontros e conversas, os(as) estudantes precisam organizar e analisar as informações levantadas. É o momento de estruturar uma forma de apresentar para toda a comunidade escolar o que aprenderam na prática a partir da trilha realizada. Explore diferentes linguagens como exposições, painéis, intervenções, eventos temáticos, performances, rodas de conversa com convidados etc.

5º passo: Avaliar

Nesta etapa final, gestores(as), professores(as) e estudantes refletem sobre o processo de planejamento e execução da trilha. Essa ação é importante para garantir a qualificação das práticas educativas a partir de diversas vozes. A avaliação compartilhada é um movimento formativo do qual todos(as) participam e constroem percepção comum acerca dos aprendizados e desafios enfrentados.

  1. Agendar dia para realizar a avaliação. É importante reunir todas as pessoas envolvidas direta e indiretamente na atividade: estudantes, professores(as) e gestão.
  2. No dia da avaliação, o(a) professor(a) faz uma linha do tempo, relembrando todas as etapas da trilha. Em seguida, realiza rodadas de perguntas para os(as) participantes. As percepções relatadas devem ser registradas para que todos(as) possam visualizar os pontos abordados. A seguir, algumas sugestões de perguntas:
  • O que aprendemos de novo nesta trilha?
  • Quais foram os desafios? O que não deu certo?
  • Como enfrentamos os desafios? Quais foram as novas ideias que surgiram durante a execução da trilha?
  • Como podemos melhorar? O que podemos fazer diferente nas próximas trilhas?
  • Quais ideias de temas, de percursos e de novos potenciais educativos a serem explorados em novas trilhas?

Nesse momento, é fundamental que o(a) professor(a) faça conexões com outros temas/ações/projetos que estão em curso na escola e relacione os resultados alcançados com as demais áreas do conhecimento.

Aproveite todas as reflexões geradas para promover novas discussões acerca do desenvolvimento do Programa São Paulo Integral na escola, considerando as bases da educação integral e a implementação de práticas a partir da vocação da unidade escolar e do território.

Referências bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: bit.ly/49iM638.

BRASIL. As Cartas da Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

SÃO PAULO. Prefeitura de São Paulo. Currículo Digital da Cidade de São Paulo. Disponível em: currículo.sme.prefeitura.sp.gov.br.

SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Educação Integral: política São Paulo educadora. São Paulo: SME/COPED, 2020. Disponível em: bit.ly/47meMY4.

FIRMINO, C. Professores têm o desafio de proporcionar situações didáticas que estimulem o desenvolvimento socioemocional combinado ao cognitivo. NOVA ESCOLA. 18 ago. 2022. Disponível em: bit.ly/3zP1SGI

PORVIR – Inovações em Educação. Participação: Como estimular a participação dos adolescentes na escola? 20 out. 2017). Disponível em: bit.ly/3zKW0yj

SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação (SME). Programa São Paulo Integral: experiências pedagógicas nos Territórios do Saber. São Paulo: SMECOPED, s/d, p.39. Disponível em: bit.ly/3XOon6H

Prefeitura do Município de São Paulo. Secretaria Municipal de Educação. Núcleo Administrativo – Expediente e Publicação. Instrução Normativa SME Nº 25, de 29 de Agosto de 2024. SEI 6016.2024/0116056-7. Disponível em: bit.ly/3Bu2z96.